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A chamada “Revolução Farroupilha” foi uma revolta da elite gaúcha iniciada em 1835 e que durou dez anos, na qual brasileiros do sul, descontentes com os altos impostos cobrados pela coroa sobre a produção do charque – o principal produto gaúcho da época -, proclamaram independência, enfrentando o exército do governo regencial, e mais tarde a invasão das tropas uruguaias. Para combater o inimigo, juntamente com os estancieiros, eram enviadas tropas constituídas por negros escravizados. O prêmio, para quem retornasse vivo, seria a carta de alforria.

Seduzidos pela promessa de liberdade, os escravos lançavam-se como feras nas batalhas, “para o que der e vier”. Em pouco tempo, os lanceiros passaram a ser temidos pelo inimigo, que evitavam o confronto direto com as tropas de negros.

Apesar de toda a contribuição dos negros, eles foram covardemente traídos. Durante a Revolução, a venda de negros ao Uruguai financiou o conflito, e ao final da Revolução Farroupilha, quando os rebeldes e o governo central, representado pelo Barão de Caxias, chegaram à mentirosa “Paz de Poncho Verde”, os negros foram covardemente traídos e assassinados, na batalha hoje conhecida como a “Traição de Porongos”.

Contam alguns historiadores que, com a iminência do fim da escravidão e a promessa de alforria para os Lanceiros sobreviventes, os negros tornaram-se um incômodo. Assim, na noite de 14 de novembro, por volta das duas horas da madrugada, no local chamado até hoje de Cerro de Porongos, hoje município de Pinheiro Machado, os Lanceiros Negros foram covardemente assassinados.

Conforme instruções previamente articuladas pelo General Duque de Caxias e o General Farroupilha David Canabarro, os Lanceiros foram desarmados e postos nas margens do Arroio Porongos, distantes do restante da tropa, onde foram massacrados pelo exército Imperial. 

Consta na carta de Caxias a Canabarro que “deveria ser poupado sangue brasileiro e de índios, pois estes ainda serviriam ao Império”. Segundo os historiadores, a Carta enviada por Caxias, hoje nos anais do Memorial do RS, além de ser totalmente verdadeira, elucida o fato de que alguns dias após foi declarado o fim da Revolução Farroupilha.

Historiadores dizem que não houve paz, mas sim uma covarde rendição dos “heróis” farroupilhas. Mais ainda, o historiador e jornalista Juremir Machado, em suas pesquisas, fala do “processo de mitificação que se deu em cima da história da Revolução”, e foi duramente criticado por expor visões “pouco gloriosas” sobre a Revolução Farroupilha. 

Quanto aos bravos Lanceiros Negros, foram assassinados e traídos em busca da liberdade. Lutaram não pelos ideais farrapos, mas sim pela liberdade que lhes era muito mais digna e importante do que qualquer ideário dos charqueadores do sul do Brasil. Ou seja, a estrofe racista do Hino Riograndense, “povo que não tem virtude, acaba por ser escravo”, é muito mais que racista, é também mentirosa, haja vista a bravura e coragem dos Negros Lanceiros gaúchos. 

A dita Revolução é agora. Temos em nossas mãos a possibilidade de fazer deste Estado muito mais que uma epopeia, mas uma sociedade justa, democrática, e realmente inclusiva para todos, negros\as e brancos\as de todas as querências.

Nós do Coletivo de Igualdade Racial do Sindjus/RS – CIRS, temos a obrigação de olhar para além de nossas individualidades, pensar e agir pelo coletivo. 

Acreditamos que a lembrança dos Lanceiros Negros durante as “comemorações” da Semana Farroupilha possa ser um passo para a mudança efetiva.