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Neste sábado, 13 de maio, temos mais um dia para refletir sobre nosso papel nesta sociedade. Em 13 de maio de 1888, a Lei Áurea foi assinada; no dia seguinte, milhares de negros e negras foram jogados na rua da amargura, sem um mínimo de estrutura, somente com suas roupas do corpo, e seguiram em busca de moradia e comida para se manterem.

Esta “falsa abolição” tem reflexos até hoje nesta sociedade que não perdeu seu caráter escravagista. Em que o quarto de despejo se torna o quarto da “secretária”. Mantendo a lógica da casa grande com salários de exploração, com valores diferenciados pela questão da cor de pele e gênero, penalizando mais gravemente mulheres negras que continuam a servir o “sinhô” e a “sinhá”. 

Na região Sul do país, este quadro é ainda pior. Na população, 75,1% das pessoas são autodeclaradas brancas, 19,9% pardas e somente 4,4% pretas. Com toda a influência da branquitude na região, o racismo estrutural é mais forte nestes estados. No caso do Judiciário gaúcho, isso fica evidente nos próprios dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), segundo os quais o TJRS tem somente 1,9% de magistrados negros(as), 4,2% de servidores negros e negras e 16,8% de estagiários negros e negras. Isso demostra que a Justiça tem muito que enegrecer, para que tenhamos na instituição o olhar de quem sentiu ou sente esta discriminação e o racismo estrutural que vivemos no país.

Por isso, nós, negros e negras, não comemoramos a falsa abolição que veio por uma Lei com objetivo de manter o nosso povo escravizado. Convidamos todas e todos para que assistam nosso documentário e reflitam sobre o papel da justiça nesse aspecto, o papel do Estado e nosso papel como cidadãos e cidadãs nesta realidade, a que temos e a que queremos. E que jamais esqueçamos da importância de nosso povo para a formação deste país. Devemos muito a nossos antepassados e aos mais velhos que ajudaram a erguer o Brasil, pois em cada local de trabalho, cada rua, cada prédio, cada hospital e escola construídos, tem a mão de um negro e uma negra.

Marco Velleda
Diretor de Comunicação do Sindjus/RS
Integrante do Coletivo Pela Igualdade Racial (CIRS)