Filiado a

Você está há 25 anos no TJRS, viu o trabalho se multiplicar e as metas crescerem. Mais uma vez colaborou para os altos índices de produtividade. A recompensa não foi a progressão, mas o burnout, o adoecimento e a sobrecarga.

Essa é uma história fictícia, mas poderia ser a de milhares de servidoras e servidores do Judiciário gaúcho que, mais uma vez, alcançaram altos índices de produtividade no Relatório Justiça em Números 2025, divulgado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) na última semana.

Produtividade alta, remuneração baixa

Mesmo com um quadro reduzido em relação a outros tribunais de grande porte, o TJRS alcançou um Índice de Produtividade Comparada da Justiça (IPC-Jus) de 313 pontos, o segundo maior entre os tribunais do país e quase 200% acima do TJMG, que registra 133.

Contudo, quando a análise recai sobre a produtividade dos magistrados, o TJRS ocupa a última posição entre os tribunais de grande porte – mesmo contando com gabinetes estruturados e equipes de servidores(as) responsáveis pela elaboração de minutas e sentenças.

Esse contraste evidencia uma realidade já denunciada pela categoria: são os servidores e servidoras que sustentam o funcionamento da Justiça gaúcha, mas sem o devido reconhecimento.

RS no fim do ranking salarial

Se a produtividade é destaque nacional, o mesmo não se pode dizer da valorização. Segundo levantamento do DIEESE, o TJRS ocupa apenas o 17º lugar no ranking salarial para servidores(as) de nível médio, com vencimento básico de R$ 4.843,63 – bem distante do topo da lista, ocupado pelo TJPR, que paga R$ 8.199,45. Entre os cargos de nível superior, o RS aparece na 9ª posição.

Esse cenário é agravado pela demora na autorização das progressões: mais de 3.700 servidores(as) aguardam despacho da Presidência do TJRS para a implementação do benefício, que já possui previsão orçamentária. Segundo dados do próprio Tribunal, a medida representa apenas 5,1% da margem disponível – hoje de R$ 594,7 milhões – e está abaixo do limite prudencial fiscal.

Ou seja, falta vontade política para priorizar quem realmente sustenta a alta performance reconhecida pelo CNJ.

Reconhecimento precisa virar valorização

Enquanto o relatório do CNJ aponta o TJRS como referência em produtividade, a realidade dos servidores é de sobrecarga, adoecimento e salários defasados.

As trabalhadoras e trabalhadores seguem cobrando medidas urgentes, como:

  • Autorização imediata das progressões e com percentual de 100% do apto

  • Revisão da matriz salarial: valorização no salário básico, para assim contemplar também os aposentados

  • Implementação de políticas que reduzam a sobrecarga e garantam qualidade de vida.