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O Dia Mundial da Saúde, celebrado neste 7 de abril, ganhou novos contornos desde 2020, quando foi declarada a situação de pandemia pelo novo coronavírus. Se no ano anterior, a data adquiriu características de reflexões e homenagem sobre o papel dos trabalhadores e trabalhadoras da saúde, neste ano o momento é de luta e indignação com a situação de abandono e descaso com a saúde no Brasil. 

No momento em que contabilizamos mais de quatro mil vítimas por dia, um país inteiro em luto pela Covid-19, seguimos assistindo à crueldade de um governante omisso, que nega a ciência e trata vidas como se fossem mercadorias. Quantas vidas poderiam ter sido preservadas caso o presidente não abrisse mão das 70 milhões de doses da vacina Pfizer em agosto do ano passado? E se não tivesse travado uma batalha política com propósitos eleitorais contra governos estaduais e ignorado a necessidade de firmar parcerias e proporcionar estrutura aos institutos nacionais de pesquisa como a Fiocruz e o Butantan para o desenvolvimento de vacinas no país? 

Agora, junto com Arthur Lira e seus aliados no Congresso Nacional, Bolsonaro mais uma vez quer se isentar da obrigação de vacinar a população. Na véspera do Dia Mundial da Saúde, a Câmara aprovou o fura-fila da compra de vacina por parte dos empresários. Dessa forma, o governo federal e seus aliados tentam destruir uma das principais estruturas da saúde pública brasileira, que é o Programa Nacional de Imunização (PNI), reconhecido mundialmente pela abrangência e qualidade em priorizar as vacinas para quem mais necessita.

Durante anos nosso país foi referência em estratégia de imunização, e hoje é motivo de preocupação dos organismos internacionais de saúde pelo atraso e ausência de uma política nacional séria. Mas os indícios de descaso com a saúde são incontáveis. Quando nomeia ministros da Saúde por mera conveniência política, Bolsonaro também expressa seu desprezo pelo SUS e por sua importância, especialmente num momento crítico como o que vivemos.

Mais do que fugir de suas responsabilidades, o presidente hoje atua quase como sabotador, inclusive atravancando o caminho para os governos estaduais na obtenção de vacinas. Se isso por si só não constitui crime contra a saúde pública, some-se as inúmeras aparições públicas do chefe de Estado sem proteção, em aglomerações e com discursos negacionistas que menosprezaram desde o início da pandemia o seu potencial devastador.

Essas atitudes incompatíveis com a responsabilidade de seu cargo denotam profundo descaso com a vida humana. As consequências desse descaso são agravadas por outras mazelas, como o desemprego recorde que mergulha o país na recessão e na miséria. Vivemos uma situação de guerra. Sem tiros ou duelos. Mas uma guerra que mata: sem ar, sem comida, sem emprego e sem esperança.

Na data de hoje nos solidarizamos com o conjunto de profissionais de saúde e exaltamos seus incansáveis esforços para cuidar de nossa população, enfrentando toda sorte de dificuldades, precariedades e desgaste físico e emocional. Nos solidarizamos também com as famílias de trabalhadores e trabalhadoras da linha de frente na luta contra o covid-19 que tombaram durante esse período. 

Na manhã de hoje estivemos no ato simbólico em Porto Alegre para exigir vacinas para todos, ações firmes dos governos municipal, estadual e federal e manifestar nosso apoio aos guerreiros e guerreiras da saúde. Caminhamos junto a representantes de diversas categorias e movimentos pela vida, pela saúde e para dizer basta!

Basta de desgoverno e irresponsabilidade. Basta da angústia no peito e do choro trancado na garganta pelas tantas vidas que perdemos. É obrigação de cada um e cada uma usar a sua voz, em respeito à memória de todas as mais de 377 mil pessoas que foram silenciadas pela Covid-19. Nossa homenagem a esses guerreiros e guerreiras não pode ser outra senão nossa luta.