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Maioria na quantidade e também na pobreza, na precariedade de condições de saúde e infraestrutura, na população carcerária, no subemprego e nas mortes violentas. A vida dos negros e negras no Brasil é marcada pelas dificuldades e pela luta contra a desigualdade e a injustiça social. Nosso país não acertou as contas com seu passado obscuro, com sua história conturbada e construída às custas do sofrimento e da escravização de seres humanos.

Hoje, 131 anos após o decreto que aboliu a escravidão no país, a população negra ainda sente os efeitos nefastos do racismo. Conforme explica a doutoranda em sociologia e ativista Winnie Bueno, a formalização legal da mudança de condição (de escravos para pessoas livres) não possibilitou as condições ao pleno exercício da cidadania em condições de igualdade, situação que se estende até os dias atuais: “as funções cumpridas por eles (negros) seguiram obedecendo as mesmas lógicas segregacionistas baseadas em critérios raciais, que foram mobilizados biologicamente para que se perpetuasse uma mão de obra disponível, barata e precarizada.”

No estudo “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça”, o IBGE retrata como a questão racial está no centro da desigualdade no país. A pesquisa aponta que a discrepância entre as remunerações de negros e brancos está em todos os níveis de escolaridade e condições de trabalho (formal ou informal). A taxa de homicídios de jovens negros é quase três vezes maior do que a brancos; 185 por 100 mil habitantes, de acordo com o mesmo estudo. As dificuldades ou privações de direitos e condições de cidadania à população negra expõem uma face ainda mais complexa da situação do país: o racismo institucional, que se traduz em desigualdades de recursos, atendimento pelo poder público e até mesmo na presença reduzida do negro no serviço público, na política, nos cargos de chefia de instituições.

Todos esses elementos da realidade nos trazem a obrigação de debater o racismo e refletir sobre o papel de cada um nesta construção social e cultural para, então, buscar formas de superá-la. O dia da Consciência Negra é uma data para marcar a luta do povo negro contra todos os obstáculos históricos mas é também para fortalecer a importância de combater o racismo no dia a dia. Conhecer a realidade e compreender os processos que contribuem para a continuidade do racismo estrutural é fundamental para repensar e reconstruir nosso modelo de sociedade.